Chegada da delegação de Capoeira no 1° Festival de Arte Negra em Dakar, Senegal, por Jornal A Tarde

UM DIA COMO HOJE: o Jornal A Tarde, publica a chegada da delegação de Capoeira no 1° Festival de Arte Negra em Dakar, Senegal (19/04/1966)

A TARDE - 19-04-1966 velhos mestres
Os angoleiros posando à foto no dia 16/04/1966 

À chegada da comitiva de capoeira ao 1° Festival de Arte Negra o dia 16 de abril de 1966, o Jornal A Tarde tira uma foto e logo três dias depois publica:

CAPOEIRA NO FESTIVAL DE ARTE NEGRA – A Bahia será representada no Festival de Arte Negra, que se realiza em Dakar (África) por um grupo de capoeiristas, dos mais famosos, escolhidos a dedo pelo Mestre Pastinha. Os capoeiristas que aparecem na foto são os seguintes: Mestre Pastinha, Roberto Pereira (Satanás), Mestre Gato, Gildo (Formado), Camafeu de Ochosee (sic), e João Grande.

O Mestre Pastinha fará uma série de demostrações. Seus alunos, hoje também instructores de capoeira Angola da Bahia, se apresetarão para a platéia internacional, que estará presente ao Festival, promovido pelo presidente do Senegal, Sr Leopoldo Senghor em combinação com o Itamarati. Ainda como outra atração, o capoeirista Camafeu de Ochossi (sic) levará uma gravação de afro-brasileiro, com o acompanhamentos de berimbau e atabaques, inscritos oficialmente pelo Itamarati e pelo Centro de Estudos Afro-orientais, como autêntica música afriacana do Brasil, onde a Bahia tem destaque e influência com maior intensidade.

A delegação da Bahia antes de embarcar esteve na redação de A TARDE, oportunidade em que afirmou que graças ao Diretor Valdir Freitas de Oliveira, do Centro de Estudos Afro-orientais, onde se diplomaram, conseguiu a oportundiade para mostrar o qeu a Bahia tem no estrangeiro.

O Mestre Pastinha já foi a África, e deu vida ao sonho da sua vida, ensinar sua capoeira na terra mãe…

Fonte: Site Velhos Mestres

JOGO DA VIDA 

Mestre Pastinha comemora o seus 90 anos de vida, por Jornal da Bahia

UM DIA COMO HOJE: Jornal da Bahia publica: “90 anos de um capoeirista que a vida ainda não derrubou, apensar das tentativas” (08/04/1979)

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A seus 90 anos de idade, Mestre Pastinha conmemora o seu aniversario com sua companheira, a velha guarda, e alguns capoeiras. O Jornal da Bahia presente no dia, publica o seguinte:

“Vicente Ferrerira Pastinha, o maior difusor da Capoeira Angola e o último dos grandes mestres capoeiristas da Bahia, comemorou quinta-feira, cego e solitario, seus 90 anos de vida, boa parte dos quais dedicados à luta que ajudou a difundir. A festa de reconhecimento que ele merecia, como um dos mitos da cultura popular baiana, não aconteceu.

Não lhe faltou, entretanto, o afeto da companheira, Maria Romelia Oliveira, e abraço amigo de alguns capoeiristas da velha guarda, como os mestres Waldemar e Caiçara. Sem discursos ou homenagens, mas como o som tão familiar do berimbau, Mestre Pastinha comemorou seu aniversário.

A idade e a cegueira não conseguiram abater este bravo e sua academia que depois de fechada durante cinco anos reabre agora na rua Gregorio de Mattos, 51. Preocuapado como os rumos que tomou a capoeira – “hoje qualquer um se diz capoeirista” – , Mestre Pastinha esta decidido a “moralizar” a luta que absorveu quase toda sua vida. Mas precisa de ajudae, para consegui-la, promete ir até as autoridades.

Suas dificultades são muitas, pois apesar de ser famoso como difusor de um estilo de capoeira, Mestre Pastinha nem mesmo tem uma casa para morar. ‘Vivemos num quarto escuro ali na Alfredo de Brito, 14′, conta sua mulher Romélia, que precisa vender acarajé para ajudar nas despesas. Para ela, a fama de Pastinha não o ajuda em nada. Quando lhe lembraram que o governo poderia dar uma casa ao mestre, como deu ao poeta Dorival Caymmi, comentou com amargura: ‘A Bahia é de Caymmi, não de Pastinha’“.

Fonte: Acervo Jogo da Vida, do Jornal da Bahia – 08/04/1976

Consciência e conexão com a capoeiragem e nossos antepassados no

JOGO DA VIDA 

Mestre Bimba, campeão na capoeira desafia todos os luctadores bahianos

UM DIA COMO HOJE: Jornal A Tarde: “‘Mestre Bimba’. ‘campeão na capoeira’ desafia todos os luctadores bahianos” (16/03/1936)

 

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Através do Jornal A Tarde, Mestre Bimba desafia aos capoeiristas baianos com sua Capoeira, a Luta Regional Baiana. Chama a atenção o título, que deixa entre aspas as palavras: “Mestre Bimba” e “Campeão na capoeira“. Mas, foi num momento onde teve que dar prova de sua capoeira frente aos seus pares e à comunidade.

Na materia do Jornal, publica:

“A ‘capoeira’ esporte exotico, mas interessante, com seu nostalgico, mas sagaz e atilado, de golpes felinos, ultimamente está sendo praticada na Bahia com manifesto interesse geral.

[…] E accrescentei os seguites  – vingativa, banda traçada, balão em pé, balão arqueado, balão colar de força, cintura desprezada, cintura rins, gravata cinturada, tesoura aberta, a benção, salta pescoço sopapo galopante, godemo, cotovello e dentinho.

Para evitar enganos e más interpretações e no intuito de tornar os encontros de capoeiragem mais interessantes e mais violentos, todos os golpes e trucos de capoeiragem entrarão  em jogo. Os adversarios poderão se apresentar com os golpes que conhecerem. Fica assim lançado o desafio aos que praticam ou conhecem a capoeiragem, como também a qualquer outro luctador (jiu-jutsi, etc.) O que quizerem. Eu os enfrentarei com minha capoeira!

– E há golpes prohibidos (sic) na capoeira? – preguntamos-lhe.

– em verdade não  deveria existir golpes prohibidos em capoeira, porque é uma lucta (sic) instinetiva (sic). Mas como se trata de um assalto cortez, serão  considerados golpes prohibidos: dedo nos olhos, pancada nos orgãos sexuaes (sic), dentada e puxamento de cabellos (sic).

A capoeira Angola não  é para ser praticada em ring, mas com pandeiro e berimbáo (sic), porque todos os golpes obedecem, por dizel-o (sic) aos sons desses instrumentos.

Ainda no dia 18 houve, no Parque Odeon, a exhibição entre Bahia e Americo Sciência, sem decisão. Por que? Simplesmente: capoeira Antola com os golpes deterinados ou regulados pelo berimbau… “

Mestre Bimba
Mestre Bimba – Jogo da Vida

Ao tempo, mais de trinta anos depois, “Mestre Bimba declarou parao Esportes Jornal, em 13 de março de 1967, que sua maior alegria foi ter sido campeão no torneio de lutas, em 1936.”

Fonte: Pedro Abib, Mestres e Capoeiras Famosos da Bahia, 2013. / Paulo Magalhães Filho, Jogo de Discursos – a disputa por hegemonia na tradição da capoeira angola baiana, 2012.

JOGO DA VIDA

Mestre da Capoeiragem pelo jornal condena o sistema adotado por Mestre Bimba

UM DIA COMO HOJE: mestre da capoeiragem pelo jornal diz que é exagero chamar a Bimba de campeão baiano de capoeiragem (12/03/1936)

Os representantes da angola e da regional, embora vissem nas competições uma forma de ascensão da capoeira e de seus praticantes, tinham opioniões fortemente divergentes em relação às regras da competição. Parte desse debate aparece nos jornais da época:

Ouvindo um Mestre da Capoeiragem, Samuel de Souza condena o sistema adotado por Bimba. […] Assim falou: Não resta dúvida que o Bimba é forte e ágil porém é exagero chamá-lo de campeão baiano de capoeiragem pois merecidamente cabe ao Maré esse título. A capoeira por Bimba introduzida no Parque Odeon não é legítima a de Angola, mesmo porque par ase praticá-la mister se faz a presença do berimbau e pandeiro marcadores do ritmo. (O IIMPARCIAL, 12/03/1936)

Fonte: Paulo Magalhães Filho, Jogo de Discursos – a disputa por hegemonia na tradição da capoeira angola baiana, 2012.

Capoeira, de Carybé [Acervo Pinacoteca Carybé]
Carybé – Jogo da Vida

No dia seguinte, o Mestre Bimba responde no Diario da Bahia. Pode ver o que diz na próxima publicação do Jogo da Vida, e a do dia anterior, para ver como começo a polêmica com a capoeira no ringue.

JOGO DA VIDA

Protesta em jornal contra a capoeira no ringue

UM DIA COMO HOJE: esportista protesta com uma carta ao jornal, contra a capoeira no ringue (11/03/1936)

Zé derruba lutador com golpe de capoeira Foto TV GloboFrederico Rozário
Novela De Lado a Lado – Foto TV Globo

Por volta dos anos trinta, a rivalidade entre as duas propostas de capoeira já se manifestava, inclusive em desafios. Todos buscassem o reconhecimento da capoeira como esporte, havia, entretanto, diferentes concepções do que significaria a capoeira no ringue. Foi assim que Mestre Bimba se consagrou como campeão destes campeonatos no ano 1936 e deu prova da sua Luta Regional Baiana.

Porém, na luta em que Mestre Bimba derrotou Zeí (José Custódio dos Santos) , a polêmica continuou. Como na luta anterior, a questão envolvia a própia concepção do que era a capoiera e de como ela deveria ser disputada em um ringue. Em uma carta ao jornal, o esportista Carvalho Rosa protesta:

Ora Sr. Redator, a capoeira é uma espécie de Jiu-Jitsu atrazado, o seu mister é eliminar o adversário, com os seus golpes ágeis, violentos e rápidos na maior parte fulminantes. […] Como contar pontos se os golpes aplicados não surtirem efeitos, aliás otimamente defendidos? Sendo esta de estrangulamento não pode haver contagem de pontos. Só pod se decidir na maneira seguinte, solta aos olhos. (DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 11/03/1936)

Oriundo do meio pugilístico, em sua carta demostra pouco conhecimento de capoeira, com uma tentativa de adaptá-la a regras de competição oriudas de outras lutas.  Pode-se presumir que grande parte do público tinha um pensamento semelhante, vez que estava acostumado às violentas lutas de boxe e vaiou a luta de Henrique e Américo (em 18 de fevereiro de 1936), considerada “tapeação” ou, em termos contemporâneos, “jogo de compadre”.

Na próxima publicação do Jogo da Vida, continua a polêmica da capoeira no ringue, com a participação dos representantes da capoeira angola e regional.

Fonte: Paulo Magalhães Filho, Jogo de Discursos – a disputa por hegemonia na tradição da capoeira angola baiana, 2012. / Diario de Notícias

JOGO DA VIDA

O Berimbau solista avisa: é hora de lutar

UM DIA COMO HOJE: O Jornal Tribuna da Bahia publica “O berimbau solista avisa: é hora de lutar”(04/03/1976)

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Mestre Sena um dos defensores da capoeira esporte utiliza esse discurso de combate à descaracterização dos show folclóricos para defender a capoeira esporte, na materia o Jornal Tribuna da Bahia publica: O berimbau solista: é hora de lutar, em 04/03/1976:

Mesmo na Bahia, onde se firmou como característica de um povo, a capoeira vem gradativamente perdendo a sua essência. Proliferam as academias que se propõem a ensiná-la sem qualquer técnica e método à proporção em que os grupos ditos folclóricos davam à luta uma roupagem inteiramente nova, desrespeitando suas verdadeiras origens, modificando-se a fim de atender às exigências do turismo.

Seria oportuno lembramo-nos aqui das palavras de Mestre Pastinha: “Capoeira Angola: seu principio não tem método; seu fim é inconcebivel ao mais sábio dos capoeiristas.” A crítica ao folclore estava imbuída da defesa de uma metodologia esportiva que aproximasse a capoeira das artes marciais orientais, objetivo confesso de Sena:

[…] o que fizemos foi aparar as arestas do trabalho de Mestre Bimba, que embora fosse digno de todo o respeito estava ainda em estado acentuado de empirismo e, portanto, carecendo de uma estruturação. As modificações que a capoeira passou foi a mesma que passaram o Judô e o Karatê para se transformar em esporte luta dos países orientais.

Dentre as inovações estabelecidas por Sena e não  criticadas como descaracterizadoras, no jornal, destaca-se que ele criou

[…] uma roupa para combate – a jaqueta, criou uma saudação típica para ser usada antes de cada disputa – o salve e criou uma forma de designar o grau de aprendizagem dos alunos – sete fitas coloridas (branca, cinza, preta, vermelha, azul, amarela e verde).

Fonte: Paulo Magalhães Filho, Jogo de Discursos – a disputa por hegemonia na tradição da capoeira angola baiana, 2012.

JOGO DA VIDA

Jornal titula: Tiburcinho e Batuque, de autoria de Jair Moura

Tiburcinho se inicia na arte do Batuque por intermedio do Mestre Bernardo José de Cosme, mestre da arte na sua região. Seu jogo de capoeira tinha muita influência da mandinga do Batuque que forçava os praticantes a defender a região genital, além da parte interna das coxas, dos golpes-baixos” desferidos na luta.

UM DIA COMO HOJE:  Tiburzinho fala do batuque num jornal (28/02/1970)

O Jornal A Tarde, de 28 de fevereiro de 1970, sob o título “Tiburcinho e Batuque, de autoria de Jair Moura”, Tiburcinho confirma:

O Batuque é um jogo cuja competição era formada por dois contendores, tendo o ponto fundamental de defesa os órgãos sexuais, devido à violência dos golpes destinado ao desequilíbrio de cada um dos lutadores, através de golpes coxa contra coxa, acrescentado à ‘rapa’ ou ‘banda’ além d’do baú’ que é um golpe de desequilibrio […].

Tiburcinho ainda cita os nomes de alguns dos mestres batuqueiros de Jaguaripe: Lucio Grande de Nazaré das Farinhas, Manuel João, Pedro Gustavo de Britto, Liberato, Gregorio Tapera, Pedro Correia, Francisco Chiquetada, Joaquim Grosso, Zéca de Sinhá, Purcina, Leocádia Silva de Maria Arcanja, Euclides Lemos (Caco), Teotonio, Antonio Frederico, Eusébio de Tapiquará, este último escravo da família Abdon” E relembra algumas cantigas populares, marcadas ao som do pandeiro “tampanque” (tambor de guerra), em que seus refrões diziam:

Ê loandê!
Tiririca ê faca de cotá,
Não me cotá mulequinho de sinhá
Mata m’embora
Cada um tira o seu
Vais embora!
Tiburcinho afirma que o Batuque foi criminosamente esquecido por todos. Apesar de ter sido condenado pela polícia, devido ás consequências que quease sempre terminavam em conflitos, trata-se de um aspecto de nossos costumes populares, e “não se justifica o ostracismo em que hoje se encontra”
Fonte: Livro Mestres e Capoeiras Famosos da Bahia, Pedro Abib, 2013
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